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sexta-feira, 6 de junho de 2014

O primeiro curso que mamãe me matriculou...



Fiquei esses dias sem escrever, as palavras não chegavam até meus dedos para serem digitadas, mas a minha cabeça não parou em nenhum momento de “digitar”, olhar observar, ver coisas que antes não conseguia enxergar. 


Descobri nesses dias de luto da morte da minha mãe, que estou fazendo um curso no qual fui matriculada por ela assim que nasci, e que esse curso só terminara, quando descer em um caixão como o que há vi descer agora no termino do seu próprio curso. 

È o curso do tempo da vida. Que está se tornando cada vez mais completo principalmente agora que deixei de carregar comigo o preconceito fundante de nossa época de que só a juventude é bela e em direito a ser feliz, de que a maturidade é sem graça e a velhice é uma maldição. 

Sem duvida minha mãe além de me matricular, foi uma das principais professoras do meu curso, não apenas em minha infância como acreditava até a pouco tempo atrás, mas agora vejo que seus ensinamentos foram continuados por toda a minha vida.

Muitas vezes usamos as palavras e as gastamos como são gastas as pedras do rio e como acontecem com as pedras do rio, nossas palavras vai aos poucos modificando o significado, o lugar em que as colocamos e muitas vezes até somem de nossas vistas. 

As vezes voltam a reaparecer em outro lugar onde não imaginávamos vê-las, mas com um ar tão nostálgico que desistimos de tira-las de lá. 

Felicidade é sem duvida alguma uma dessas palavras, que foi aos poucos sendo banalizada, modificada e hoje não temos mais tanto interesse nela como tínhamos outrora. Vivemos hoje uma época de vulgarização de grandes emoções e desejos, tudo é fast food, prêt-à-porter, pronto para o micro-ondas, fácil pratico e rápido... E tudo é também tão anêmico. 

Sempre gostei das pessoas e das palavras, desconcertantes. Talvez por isso goste tanto de escrever. São esses contornos imprecisos que me permite exercer o direito que tenho de refletir e de criar em minha vida. 

Mas devo confessar que algumas palavras e mesmo algumas pessoas me assustam quando olho por trás de seus sete véus. São pessoas e palavras que se revestem de um padrão de comportamento progressista, avançado, mas também sóbrio e estéril cheio de angustia e de desperdícios. Cheios de ideias que na realidade poucos conseguimos atingir, e que nada tem a ver com liberdade e com a felicidade. 

E talvez hoje eu tenha descoberto que foi minha mãe a melhor mestra que tive nesse modulo tão importante que é a maturidade. Foi dela que recebi a preciosa aula de que a idade madura não precisa ser o começo do fim, que a idade avançada não é necessariamente cheia de isolamento e secura. Que podemos fazer dessa nova fase uma fase de realização daqueles sonhos que guardamos lá em nossa juventude, podemos modificar nossos laços amorosos, tanto os familiares como os de amizade, podemos variar nossos interesses, e curtir melhor o gozo das coisas boas. 

Minha querida professora mamãe me ensinou que existir é poder refinar nossa consciência de que somos demais preciosos para nos desperdiçarmos buscando ser quem não somos não podemos e nem queremos ser. 

Porque não resta duvida alguma que o curso do tempo vai devorando tudo pelas beiradinhas, roendo, corroendo, recortando e consumindo. E nada nem ninguém lhe escaparão, a não ser que faça dele seu bicho de estimação. Só assim o tempo deixará de ser ameaça e passará a ser promessa.

Foi mamãe também quem me ensinou que o tempo não é uma poderosa entidade externa que determina minhas crenças e meus pessimismos, que ele só age assim quando eu permito, mas que se eu não permitir, o tempo poderá e será meu aliado. 

A forma como reagimos positivamente e assumimos e apreciamos cada fase do nosso tempo é que vão determinar se iremos nos resignar aos pensamentos massificados e desistirmos assim que as rugas se instalarem ou se vamos cair na velha armadilha da eterna juventude.

Muitos de nós não resistimos ao patético reino da futilidade que não nos deixa viver, mas nos ensina a nos congelar. Nesse caso o tempo será o ogro que nos jogará de um lado para outro como bonecos de trapo, seres humanos empalhados. 

Mas o que aprendi com mamãe foi que o tempo tem sim um lugar para mim, independente da minha beleza física ou da minha aparência e idade. Desde que eu aceite como natural, e saiba acolhê-lo sem tentar modificar quem sou. 
Por favor, deixe seu comentário ele é importnte para meu trabalho.
Muito obrigado!
Fátima Jacinto.
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