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domingo, 18 de maio de 2014

Uma reflexão sobre a vida e a morte.



A quatro mãos escrevemos o roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério. ( Lya Luft).

  
Hoje talvez seja um dia para grandes reflexões. Vivemos todos em uma teia, e nosso trajeto traça o nosso amadurecimento, são altos e baixos, pontos luminosos e zonas de sombra. 

E é assim que entendemos que a vida não tece apenas a teia, mas também nos proporciona ganhos uma sucessão de ganhos assim como perdas outra sucessão de perdas. 

É no equilíbrio dessa balança que depende muito do que soubermos e quisermos enxergar. 

Agora estou me perguntando o que quero enxergar nesse momento? Qual é o tom que quero dar minha vida agora? (Não estou perguntando como seremos ou não condenado a viver. Não acho que a vida seja uma condenação nem em um momento como esse).

A vida as vezes tem tons mais melancólicos, e em outras tons mais claros, como a pressa e a superficialidade, alternamos alegria e prazer com momentos de profundos e reflexivos.
Algumas vezes apenas corremos pela superfície e em outras vezes temos que mergulhar em águas profundas. 

Muitas vezes estamos tão distraídos que não conseguimos ouvir a nossa voz e nem a voz do outro. E ai sentiremos suspeita e desconfiança, mas tudo isso vai depender de nós. 

Em nossas relações humanas, que incluem os diversos laços amorosos, nadamos contra a correnteza. Tentamos o impossível: a fusão total não existe, o partilhamento total é inexequível. E o que realmente é essencial nem pode ser compartilhado na maioria das vezes. Essa talvez seja a nossa danação ou quem sabe a nossa gloria – solitariamente.
E assim rasgando joelhos, mãos e alma a gente afinal vai vivendo.

 Estou sempre escrevendo sobre o fato de sermos responsáveis, mas também inocentes em relação ao que nos acontece. 

Somos autores de boa parte de nossas escolhas e omissões, audácia ou acomodação, de nossa esperança e fraternidade ou de nossa desconfiança. 

Mas sem duvida alguma somos inocentes das fatalidades e dos acasos brutais que nos roubam amores, pessoas, saúde, emprego, segurança e ideais. 

Minha perspectiva de ser humano, de mim mesma, é tão contraditória quanto instigante. Somos transição e somos processo. É tudo isso nos perturba. Dessa minha perspectiva somos senhores e não servos.  Somos pessoas, e não pequenos animais atordoados que correm sem saber ao certo por quê.

Fazendo aqui um pouco de literatura, posso dizer que é assim que a morte vai escrevendo sobre nós – desde que nascemos ela vai elaborando conosco o roteiro. Ela é sem duvida alguma a grande personagem, o olho que nos contempla sem dormir, a voz que nos convoca e não queremos ouvir, mas pode nos revelar muitos segredos. 

O maior deles que ela me ensinou em nossos encontros foi: a morte torna a vida tão importante!

Porque vamos morrer, precisamos poder dizer hoje que amamos fazer hoje o que desejamos tanto, abraçar hoje o filho ou o amigo. Temos de serem decentes hoje, generosos hoje... deveríamos tentar ser felizes hoje. 

A morte não nos persegue, ela apenas nos espera, pois  somos nós que corremos para o seu colo. O modo como vamos chegar lá é coisa que podemos decidir em todos os anos de nosso tempo. 

O melhor de tudo é que ela nos lembra da nossa transcendência.

Somos mais que corpo e ansiedade, somos mistério, o que nos torna maiores do que pensamos ser, maiores do que os nossos medos. 

Quando se aproxima dessa zona do inaudito, o amor tem que se curvar, com dor, com terror, submete-se a essa prova maior. Começa com a ternura, aproxima-se de alguma coisa chamada permanência. 

Se passamos nossa vida acreditando que estamos aqui para comer, trabalhar, comprar e pagar contas, a morte da pessoa que amamos será sem duvida remissão e desespero. Não nos conformamos, não acreditamos em mais nada. 

Mas se tivermos alguma visão positiva do todo do qual fazemos parte, junto com a indesejada, insondável, mas inevitável transformação a morte, depois de algum tempo a pessoa que amamos se acomodará de outro jeito em nós, e continuará como parte da nossa realidade. 

Está transfigurado, porém ainda existe. 

Conheço bem a Senhora Morte, ela já me pegou duro, me cuspiu na cara, me jogou no chão. Levou de mim pedaços preciosos e importantes. Mas as partes perdidas estão se refazendo, diferentes, hoje não me sinto mais mutilada, embora a cada dia sinta em mim aqueles espaços vazios que não voltarão a ser ocupados. 

E foi assim que aprendi que a melhor homenagem que posso fazer a quem se foi é viver como ele gostaria que eu vivesse, bem, integralmente, saudavelmente, com alegrias possíveis e projetos impossíveis. 

E para isso não poderei está agachada em um canto tapando a cara, porque assim não escutarei o rumor do vento nas árvores do mundo, que eu tanto quis entender nem que seja mesmo por só dia. 

Entendi com a Senhora Morte que somos inquilinos de algo bem maior do que nosso pequenos segredo individual. O poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo.

Entendi que como as árvores de uma mata, estamos vivendo esse inquilinato, alguns de nós são retirados em plena florescência, e potencia e tombam. Outras nem chegam a crescer, e fenece, outras, velhíssimas, retorcidas e torturadas, quase pede enfim para descansarem mas ainda pode ter dignidade e beleza em sua condição. 

O tempo que aparentemente tudo leva e tudo devolve, só nos afoga se permitirmos. Muitas vezes é visto como ameaça o tempo que é usado para nascermos, brotarmos, quando na realidade tudo o que precisamos é aprender  domestica-lo. Depende apenas da nossa perspectiva e possibilidades em tecermos nossa historia. 

Viver como morrer é nos criarmos a cada momento. A vida não está aqui apenas para ser suportada ou vivida, mas para ser elaborada. Eventualmente reprogramada conscientemente executada. Não precisamos realizar nada de espetacular. Mas que o mínimo seja o máximo que a gente tenha consigo fazer por nós mesmos. 

Seu comentário é importante para meu trabalho, deixe-o aqui.
Muito obrigado!
Fátima Jacinto 





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